CIDADANIA E FÉ...
FERNANDO OU ANTONIO?
Estive em Lisboa recentemente e percorri um bairro muito
conhecido na Capital Portuguesa. Talvez o mais conhecido. Estou falando de
Alfama. Lá ouvi de perto coisas que não sabia sobre um certo cidadão português,
chamado Fernando de Bulhões y Taveira, nascido naqueles becos ingrimes...
Alfama é a
corruptela do nome original do bairro que vem da época da dominação moura a
toda a península ibérica: Al hamma... Pois como disse, foi lá que nasceu o
ilustre Cristão, de antes da reforma protestante, chamado Fernando... Fernando
de Bulhões y Taveira Azevedo...
Falando assim pouca
gente vai saber quem é. Mas se eu lhes disser Santo Antonio, todo mundo vai
dizer que conhece. O santo que os católicos reverenciam hoje, na verdade,
chamava-se Fernando de Bulhões y Taveira Azevedo, e, é o mesmo a quem se atribuem
feitos através da fé, em Pádua e Coimbra...
Resta-me dizer
porquê da devoção dos católicos que querem encontrar o amor ou casamento. Diz a
história que Santo Antonio, nascido a 15 de agosto de 1195, em Lisboa, é filho
do fidalgo Martinho de Bulhões, reconhecido por El Rei de Espanha, e um dos
responsáveis em armas, pelo quinhão recebido por Afonso Henriques, o Condado
Portucalense, depois da vitória contra os Mouros...
Seus pais, sendo
nobres, tinham que consagrar à Igreja um dos filhos. Ainda jovem, Fernando (depois Antonio) entrou para a Ordem dos Cônegos
Regulares, em Coimbra, Portugal, onde estudou Teologia e Filosofia,
ordenando-se padre agostiniano, em 1219. Apreciava a vida dos mártires e
desejava viver o cristianismo como tal. Ficou impressionado com a morte brutal
de cinco frades franciscanos, martirizados no Marrocos, em 1220. Por causa
disso entrou para a Ordem Franciscana, onde passou a ser chamado Frei Antônio.
No mesmo ano, decidiu ir para Marrocos, para completar a obra de evangelização
dos pagãos começada pelos cinco mártires. Mas o que o tornou diferente dos
irmãos na fé foi a eloquência com que anunciava o Evangelho.
Santo Antônio foi o
maior pregador de seu tempo. Já velho, recusou o título de cardeal oferecido
pelo Papa Gregório IX. Preferiu continuar anunciando Cristo aos pobres. Numa
tarde de sexta-feira, 13 de junho de 1231, morreu vítima de hidropisia, acúmulo
de água nos tecidos do corpo. Conta-se que no dia de sua morte, Antonio
apareceu ao abade Tomás de Vercelli para avisar que havia morrido em Pádua. Em
seguida, teria sarado um ferimento no pescoço do abade.
Menos de um mês após
sua morte, os fiéis de Pádua, na Itália, enviaram o pedido de canonização do
santo ao Papa Gregório IX, que logo mandou o clero examinar os milagres feitos
por Frei Antônio. A investigação durou seis meses e os sacerdotes confirmaram
47 milagres, como a ressurreição de uma criança, a cura de um cego e a aparição
do menino Jesus ao santo. No dia 30 de maio de 1232, menos de um ano após sua
morte foi canonizado, tornando-se o santo que mais rápido chegou aos altares.
A fama de casamenteiro
decorre de muitas lendas. Dentre elas, a de que existia um tirano, chamado
Erzelino, que baixara um decreto, segundo o qual as pessoas deveriam levar
idêntico dote para o casamento. Assim, rico casaria com rico, pobre com pobre...
Casava-se mais com a carteira do que com o coração. A população da cidade
revoltou-se contra a iniquidade do decreto e Santo Antonio saiu em praça
pública para enfrentar o tirano, que não resistiu e acabou revogando a
determinação.
No Brasil Colônia, Santo Antonio foi tão invocado pelos
militares que acabou nomeado sargento mor “post mortem”. Na resistência aos
invasores franceses, Santo Antonio foi invocado pelo menos duas vezes nas
batalhas sangrentas que se travaram no Largo da Carioca, no Centro do Rio de
Janeiro, à época um charco em que havia inclusive jacarés. Pela vitória foi
prometido, e, até hoje se cumpre, manter uma luz votiva acesa no nicho dado ao
Santo no convento ali erigido. Dom Pedro Primeiro promoveu Santo Antonio a
General do Exército brasileiro, “post mortem”, e, de acordo com a enciclopédia
Barsa, o nome dele foi mantido por muito tempo no Almanaque do Exército.
Agora decidir entre
Fernando ou Antonio, pouco importa. Seja feliz no amor conquistando dia após
dia a pessoa que está em sua companhia fazendo da união um eterno namoro.
Falei e disse!
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